quarta-feira, março 22, 2006

Amar

Descobri por que te amo. Descobri que te amo não porque és perfeito, mas sim porque és perfeito para mim.

terça-feira, março 21, 2006

Liberdade...

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doiraSem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa

domingo, março 12, 2006

Tomada de posse de Cavaco Silva


Dia 9 de Março de 2006 ficará marcado pela tomada de posse do quarto Presidente da República, desde 25 de Abril de 1974. O dia amanheceu agitado para os lados da Assembleia da República. Eram esperados os mais altos representantes do estado português, assim como um vastíssimo leque de figuras da política nacional e internacional, convidadas para a passagem de testemunho entre Sampaio e Cavaco Silva.
Tudo correu dentro da mais monótona normalidade, contudo permito-me destacar um ou outro aspecto que não me deixou indiferente.
Estando já a Assembleia devidamente preenchida, iniciou-se a ansiada cerimónia. Prestado o juramento do novo Presidente da República, seguiu-se um aplauso, que eu considero protocolar, partilhado por todos os presentes, com a excepção da ala mais à esquerda que normalmente compõe o plenário da Assembleia da República. Devo dizer que esta atitude não me surpreendeu, pois todos nós já estamos habituados a este tipo de comportamento por parte de uma esquerda que tenta, de todas as maneiras possíveis, colocar-se em bicos de pés para marcar a diferença, mesmo que isso conduza a uma atitude que pode ser rotulada de ridícula. A ausência de um aplauso no momento seguinte ao juramento do Presidente da República é, a meu ver, um claro desrespeito por um dos valores mais elementares da democracia: a vontade popular.
Este momento histórico para a vida democrática portuguesa contou com a presença de todos os antigos Presidentes da República, designação essa que cobre o Dr. Mário Soares. Depois de ter sido claramente derrotado nas urnas, voltou a cometer o mesmo erro que possivelmente o conduziu à grande humilhação da noite de vinte e dois de Janeiro. O Dr. Mário Soares, numa atitude injustificável, saiu da Assembleia da República assim que a cerimónia, no interior do hemiciclo, terminou, não apresentando cumprimentos ao novo Chefe de Estado. Com este tipo de comportamento, Mário Soares dá à opinião pública a nítida sensação de uma prolongada azia, e de um claro mau perder, que já dura há alguns meses. Tal atitude envergonha não só um homem que tanto lutou pela liberdade, como todos aqueles que o apoiaram e respeitam.
Relacionada com a apresentação de cumprimentos por parte de todos os convidados da cerimónia de tomada de posse do novo Presidente, e para terminar este texto, houve um outro episódio que me chamou a atenção, mais uma vez, negativamente. Um dos convidados desta solene sessão era George Bush, homem que apoia a totalidade das políticas imperialistas da maior potência (bélica) do mundo, tendo já sido, no início da década de noventa, a principal figura da administração americana. Aguardou a sua vez para cumprimentar Cavaco Silva, não se destacando aí dos restantes convidados. Contudo, e no momento do tão esperado cumprimento (tão esperado por parte de Cavaco Silva, bem entendido) foi alvo de uma efusiva saudação protagonizada pelo nosso, agora, Presidente da República, fazendo lembrar um encontro entre Bush filho e Blair, numa daquelas reuniões que antecederam a invasão do Iraque em que trocavam mares de cumplicidade e instintos bélicos com um simples olhar. Esta atitude pode, segundo alguns, não ter qualquer tipo de significado, contudo este cumprimento, a meu ver, pode vir a causar preocupação no futuro, não nas nossas relações externas, mas nas relações entre Belém e S. Bento.

sexta-feira, março 10, 2006

O sonho...


Sonhar é construir uma ponte móvel entre a fantasia e a realidade que se nos depara todos os dias. Sonhar é querer com o pensamento, aliando a fantasia e a inocência à ambição.
Sonho em calçar aquelas luvas, com o mesmo número e marca. Sonho em vestir aquela camisola… ter o mesmo número e o mesmo nome nas minhas costas. Sonho entrar em campo num dia como este, e ver aquele lugar, que outrora foi meu, ocupado por uma outra criança, enquanto tomo o meu lugar no templo. A fotografia da praxe, e o sorriso fingido para enganar o nervosismo. Olho à minha volta…Os meus olhos enfrentam um palco celestial coberto por um manto azul. Aí, olho-me, e vejo-me olhando… De repente um apito longínquo, e percebo que é hora de cumprir o sonho!
O velho não quis deixar o seu antigo rádio. Ficou com ele colado ao ouvido durante todo o jogo, não evitando a emoção inevitável de alguém que me conhece tão bem. As luvas estão sujas, a camisola, colada ao corpo, confunde-se com a cor da multidão, enquanto os olhos, emudecidos, te procuram em cada lugar desocupado…
Desce a cortina… Todo o sonho tem um fim… Todo o sonho tem de parar… Mas o mais importante é não parar de sonhar.

quinta-feira, março 09, 2006

Seremos livres enquanto houver pedaços de papel…

Porque por vezes é o único com disponibilidade para nos ouvir, porque nos deixa sonhar com as coisas mais incríveis sem nunca nos obrigar, por um momento que seja, a voltar a tocar o chão e a constatar duramente a nossa humilde condição. Porque o podemos acordar às tantas da noite mesmo que o que tenhamos a dizer seja de importância duvidosa, porque, depois de nos ouvir, nos faz sentir suficientemente leves para poder voar por cima de mares e visitar cada um dos santuários eternos que se escondem para lá do azul do céu. São estas algumas das razões que levam alguns a utilizar pedaços de papel para escrever… não há censura nesses momentos de confidência entre quem escreve e um pedaço de folha branca que vamos utilizar como refúgio. É antes uma viagem à liberdade! Preocupações com o estilo ou com a procura das palavras certas ficam para o encontro seguinte. Hoje o importante é escrever… contar, desabafar, sonhar, chorar e rir. Porque só assim construímos a ponte entre a nossa margem e o outro lado do rio…
Depois atiramos a nossa produção para um lugar qualquer.. de preferência para onde saibamos que, pelo menos nos anos seguintes, não vamos ser obrigados a reler o que foi escrito em determinada noite.. Sem percebermos, construímos mais um pouco da nossa história.. um pedaço da nossa vida invisível está retratada naquele rasgo.. Mantemos o que foi escrito longe, mas suficientemente perto para evitar que alguém o descubra.. Se tal infortúnio acontecer, são permitidos métodos de tortura para evitar que tal invasor de privacidades denuncie o que nós ousámos sonhar... Alguns dos nossos sonhos, se tornados reais, ou se transmitidos aos semelhantes, podem ser matéria de investigação criminal. Mas que pena mais cruel nos pode impedir de continuar a sonhar.. de continuar a escrever?! Seremos livres enquanto existirem folhas brancas para escrevermos e para sonharmos! Seremos livres enquanto houver pedaços de papel…