sábado, setembro 30, 2006

ainda sobre o liberalismo


O Liberalismo vê ainda no socialismo a base de um sistema político completamente avesso aos princípios da iniciativa privada e da propriedade privada. É essencialmente demagógico na medida em que tenta implantar uma igualdade social entre homens de natureza desigual, é fundamentalmente injusto porque premeia o capaz e o incapaz, o útil e o inútil, o trabalhador e o preguiçoso. Reduz a sociedade ao nível da pobreza e, graças à igualdade e à política de salários equivalentes, acaba por estimular a inércia e provocar a baixa da produção. Ao excluir os ricos da sociedade, perde a sua elite dinâmica e o seu sector mais imaginativo, passando a ser conduzida por uma burocracia fiscalizadora e parasitária.
E para terminar este post que se pretendia curto, nada melhor do que lembrar de Thomas Maltus (1766-1834), defensor acérrimo do liberalismo e figura popular no início do séc XIX, que afirmava que o estado devia limitar-se a proteger os mais ricos, recusando qualquer ajuda aos mais pobres. O único conselho que dizia poder dar a essa gente era que não se reproduzissem.

9 Comentários:

Às 10/03/2006 02:39:00 da manhã , Blogger António Conceição disse...

Mas que culpa tenho eu de ter nascido preguiçoso?
Se me dá gozo não fazer nenhum, porque hei-de ter menos direitos do que um workaholic, a quem dá gozo trabalhar?
Não vivemos os dois para gozar?
E mesmo admitindo a filosofia liberal radical de Malthus, não devia o Estado liberal, ao menos, subsidiar-me os preservativos, para eu não me reproduzir?

 
Às 10/03/2006 03:08:00 da manhã , Blogger AA disse...

Caro Ricardo,

Antes de tudo, publica um cartoon onde aparecem bonequinhos que se dizem liberals. Há a Hillary, o Bono, e outros indistintos. Ora bem, na América, o liberal político corresponde ao social-democrata europeu. E o social-democrata europeu (não falo dos portugueses) é um indivíduo que acredita no socialismo mas defende que deve ser implementado por via democrática.

Em suma, o que eu quero dizer é que liberal "é igual a" socialista. Isto faz-me pensar que pode não estar tão informado como julga sobre o liberalismo "europeu", e que talvez pudesse ser mais comedido... porque a sua argumentação volta a comprovar esta minha tese.

Desde já gostava que compreendesse que não o quero hostilizar. O que diz é o que se ouve por aí, mas está errado. Estou aqui para que possamos discutir e para que eventualmente possa formar uma opinião um pouco mais informada, mesmo que seja muito contrária ao liberalimo proper.

Há muitos socialismos, do mais moderado (chamado "liberal-social"), ao comunismo. Nem todas as doutrinas socialistas são avessas à iniciativa privada e à propriedade privada. Algumas, as de extrema-esquerda, são-no. Outras preferem ter a sua própria definição do que são direitos de iniciativa e propriedade privadas, e onde cessam. E costuma ser na esfera de poder do Estado.

O que os liberais postulam é que não é possível levar a cabo um programa socialista sem atropelar sucessivamente direitos e liberdades individuais. Ou seja, a doutrina até pode ser suave, mas suavemente exige que o indivíduo ceda o seu poder político ao Estado. Sobre isto, recomendo vivamente The Road to Serfdom de Friedrich Hayek.

O socialismo não é per se demagógico. É-o quando "vendido" eleitoralmente. O socialismo é inerentemente imoral, porque rouba a uns para dar aos outros. Roubar é imoral, por muito boas intenções que se tenha. Que seja um delinquente que precisa para o chuto, a Máfia, a Igreja, os Vikings, os Marcianos, ou Estado a fazê-lo não moraliza coisa nenhuma.

O ser humano age, e age por incentivos que encontra à sua volta. Procura satisfazer as suas necessidades, que podem ser desesperadas. O que faz o assistencialismo estatal, e não há outra maneira de o dizer, é subsidiar situações de carência, porque a pessoa deixa de ter incentivo para se erguer pelos seus meios.

Há situações desesperantes que alguns liberais-clássicos entendem ser função do Estado assistir. Mas a maior parte do sistema social destina-se a promover "igualdades" redistribuindo capital de um lado para o outro. Pode suprir algumas faltas, mas o que acontece é que também retira o combustível da criação de riqueza - que dá empregos e melhora o nível de vida. É por isso que quanto mais socialista for um país, ou um regime, mais tendência terá em ficar cada vez mais pobre e atrasado.

Sobre a burocracia, tema favorito meu, é também verdade que qualquer organização quando não sujeita à concorrência, e cujos gastos são pagos por impostos, (uma fonte infinita), tende a crescer como um tumor. Os privados têm de recorrer a "impostos" que são o seu dinheiro, e o que conseguirem angariar por trocas voluntárias com outros consumidores, logo têm todo o incentivo (cá está de novo o conceito) para manterem-se eficientes...

Quanto a Malthus ser acérrimo defensor do liberalismo... não era. Tinha lá as suas ideias absurdas, que a História veio refutar. Se quiser conferir grandes contribuições, esta lista é útil...

 
Às 10/03/2006 03:09:00 da tarde , Blogger AA disse...

(para o Funes) :)

No limite, uma sociedade socialista não pode permitir preguiçosos.

Admite desafortunados, desprotegidos, carenciados, porque esses merecem e porque é de justiça social que uns compensem o seu triste fado dos outros. O socialismo baseia-se na comparação entre posições de indivíduos - no não querer que uns tenham mais que os outros, que em alguns casos se chama "inveja".

Mas não admite "preguiçosos". São anti-sociais. Note-se que aqui não estou a fazer associação entre "pobres" e "preguiçosos", embora os grupos não sejam disjuntos, porque a preguiça é uma característica humana, logo também o é dos que menos têm.

No limite, o socialismo não pode deixar que existam "preguiçosos", ("free-riders" do sistema público), logo no limite as pessoas têm de ser obrigadas a trabalhar, ou pagarem a sua preguiça como um luxo (nem sempre o é)... que agrava a distinção visível entre os haves e os have nots.

Num sistema capitalista, a preguiça tem de ser paga. Uma pessoa pode viver uma vida de ócio, mas esse "conforto imoral" tem de ser pago, e não é pelo contribuinte.

Aqui não entram considerações de "merecimento". Ou a pessoa tem dinheiro, ou não tem. Se trabalhou para ter, melhor para as consciências de terceiros. Se aplicou dinheiro que tinha, tão bom. Se herdou ou ganhou na lotaria, que sorte, e ninguém tem nada a criticar.

São métodos honestos de ganhar dinheiro, e não interessa se a pessoa é um capitalista da banca, um magnata do petróleo ou das novas tecnologias, rock ou football star, com dinheiro novo ou velho.

Ou seja, o "direito à preguiça" não existe numa sociedade socialista (a não ser fora das horas decretadas para trabalho), nem existe numa sociedade capitalista (não precisa, as pessoas fazem o que querem desde que não agridam terceiros)

 
Às 10/03/2006 08:04:00 da tarde , Blogger ricardomorgado99 disse...

Caro António,
Antes de mais considero importante esclarecer que este post tinha como objectivo mostrar a opinião de alguém que não acredita na doutrina neo-liberal, mas que, simultaneamente, não se opõe ao investimento e iniciativa de privados, desde que supervisionadas por um estado eficaz. Com a imagem escolhida pretendia captar a atenção de quem lesse para a última fala. Porque o liberalismo, e como o seu comentário reforçou, vê no estado um obstáculo ao lucro, e nas revindicações dos trabalhadores autênticos entraves ao crescimento das empresas. Falemos simples e claro. A doutrina liberal tem como base a ideia de que existem pobres e ricos, privilegiados e não privilegiados, homens preguiçosos e outros empreendedores, e não se preocupa minimamente com as razões que podem estar por detrás destas diferenças. E não se preocupa porque é responsável por todas elas. Avanço desde já com uma situação muito concreta. Há alguns meses atrás, assistimos a uma iniciativa do governo francês que visava instituir o chamado CPE, contrat première embauche. Este contrato permitiria aos empregadores contratar jovens com menos de 26 anos durante um período de dois anos e despedi-los, durante esse mesmo período, com um aviso prévio reduzido e de forma simples, sem dificuldades jurídicas ou burocráticas. As manifestações contra esta medida são do conhecimento de todos, e foram alvo de algumas interpretações duvidosas, mas que não merecem qualquer reflexão neste momento. Este é, para mim, um exemplo claro do que o liberalismo pode fazer à nossa sociedade: criar emprego precário e instável, baixar o nível de vida dos trabalhadores e cavar um fosso maior entre ricos e pobres.
A questão em torno do liberalismo acaba por ser uma questão de prioridades: se acharmos que o mais importante é criar riqueza a toda a força e premiar aqueles que têm na mão todo o poder económico, então o liberalismo é, sem dúvida, a melhor escolha. Se pretendemos igualmente criar riqueza, mas para todos, criar um estado social que proteja aqueles que, por doença ou infortúnio, não podem dar o seu contributo efectivo à sociedade, então o caminho não é certamente aquele para que aponta o conceito em causa. E, sejamos razoáveis, quando se fala no incremento de um estado social, não quer dizer que se defenda um estado que premeie a-vontade-de-não-fazer-nenhum! Esse é um argumento gasto e, concordará comigo, pouco sério. Para um indivíduo se poder erguer e ser útil à sociedade precisa de ter condições mínimas de sobrevivência, o que muitas vezes não acontece. E é óbvio que isso custa dinheiro, mas aí impera o bom senso e a solidariedade, conceitos que a doutrina liberalista desconhece por completo.
Com este comentário, pretendo apenas, de forma humilde e sem demagogias, dar conta de alguns das minhas reservas em relação ao conceito de liberalismo. Aceito todas as opiniões que possam ir em direcção contrária, desde que essas não venham repletas de falácias, nem cobertas com umas pitadas de terrorismo verbal.
Que o debate continue e se estenda por outras moradas!

 
Às 10/03/2006 08:09:00 da tarde , Blogger ricardomorgado99 disse...

Quanto ao último comentário, partilho de grande parte das considerações tecidas em relação aos "adeptos da preguiça". No entanto essa é uma questão consensual. Nenhuma sociedade moderna tolera o ócio e a preguiça.
Em relação ao comentário de funes, destaco apenas o facto de ele admitir a filosofia de Malthus...

 
Às 10/03/2006 11:48:00 da tarde , Blogger aL disse...

Morgado, confesso que não sei por onde começar.

receio bem que a tua argumentação seja parca em argumentos teóricos sólidos, que infelizmente agora não tenho tempo para demonstrar.

mas o que me chamou a atenção «A doutrina liberal tem como base a ideia de que existem pobres e ricos, privilegiados e não privilegiados, homens preguiçosos e outros empreendedores, e não se preocupa minimamente com as razões que podem estar por detrás destas diferenças.»

A teoria liberal tem como base o Estado de Direito; a separação de poderes; a liberdade individual; e a limitação do poder do Estado [tenta encontrar na net J.S. Mill]

«A questão em torno do liberalismo acaba por ser uma questão de prioridades: se acharmos que o mais importante é criar riqueza a toda a força e premiar aqueles que têm na mão todo o poder económico, então o liberalismo é, sem dúvida, a melhor escolha»

No liberalismo não há espaço para a toda a força

«bom senso e a solidariedade, conceitos que a doutrina liberalista desconhece por completo»

Mas o liberalismo reconhece isso mesmo. aliás, o liberalismo é também uma área do pensamento, da ética, da moral [apesar das últimas versões mais económicas, como o schumpeter, a partir dos anos 20-30]. A diferença é que o liberlismo não impõe o bom senso e a solidariedade, portanto não coage os indivíduos a serem solidários e a terem bom senso se não o quiserem. o que acontece actualmente não é solidariedade é "violência" [ok estou a ser extremista, eu sei, mas quando eu sou obrigada a fazer determinada coisa, não se pode dizer que a faça de livre e expontanea vontade...]

um ponto de esclarecimento: «Aceito todas as opiniões que possam ir em direcção contrária, desde que essas não venham repletas de falácias, nem cobertas com umas pitadas de terrorismo verbal.
»

o que queres dizer com isto? o que é "terrorismo verbal"?

 
Às 10/04/2006 05:14:00 da manhã , Blogger carolinamelo_k disse...

E alguém pergunta: O que fazer com deficientes, órfãos, idosos, doentes, presos...?

 
Às 10/05/2006 01:18:00 da manhã , Blogger ricardomorgado99 disse...

Dentro da “teoria liberal” podemos encontrar outros dois conceitos que considero distintos: liberalismo politico e liberalismo económico. O primeiro é, a meu ver, uma doutrina equilibrada que assenta num regime democrático com todas as suas características. Já o liberalismo económico, e é o significado deste conceito que todos os revoltados com os meus dois posts defendem, rejeita qualquer tipo de laços de solidariedade entre os indivíduos e pretende disfarçar a ganância miserável de alguém que pretende a tudo custo ser mais forte do que o seu semelhante para, desse modo, o conseguir ter sobre a sua alçada. É óbvio que a ambição é inerente ao ser humano, mas o desrespeito pelos outros e a falta de solidariedade entre membros da mesma espécie não abona nada a favor da última.
Num primeiro momento, o liberalismo económico aceita também o regime democrático, no entanto os cidadãos serão forçados a perceber que terão de sacrificar todos os seus direitos laborais em nome do progresso económico e da construção de riqueza só para alguns. E digo num primeiro momento, porque um dos grandes defensores do liberalismo, Friedrich Hayek, pelo menos o nome está na lista que o António me forneceu, afirma "Mi preferencia personal se inclina a una dictadura liberal y no a un Gobierno democrático donde todo liberalismo esté ausente.”
“O bom senso não impõe o bom senso nem a solidariedade.” Bom, se impusesse, talvez não houvesse razão para toda esta discussão.
Concluo, referindo que todas as teorias têm a ambição legítima de serem colocadas em prática. No que a esta diz respeito, vemos que os exemplos práticos são catastróficos para os que preenchem o fundo da pirâmide social. No meu último comentário falei de um exemplo muito concreto, mas ainda não li qualquer opinião dos adeptos do neo-liberalismo em relação a isso. Provavelmente aprovam na totalidade a proposta em causa.
Se sou acusado de não ter base teórica suficiente para discutir sobre este assunto, posso afirmar que os liberais fecham os olhos perante os desastres que acontecem quando as suas teorias são postas em prática. Ou então, e isso é mais grave, não se revoltam com o sofrimento dos mais fracos. Mas a verdade é que, e nisso dou-lhe toda a razão, não são obrigados a tal.

 
Às 10/05/2006 01:22:00 da manhã , Blogger ricardomorgado99 disse...

Para a Carol: esses, na época da Alemanha do Adolfo Bigodes, eram mandados para Dachau. Só é preciso descobrir um Dachau qualquer e o problema fica resolvido. Afinal, é um sacrifício necessário. Bjinho!

 

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