quinta-feira, agosto 03, 2006

Para fugir ao consenso


Pela primeira vez em cerca de 45 anos, Fidel Castro afasta-se do poder em Cuba, delegando no seu irmão Raul o leme do país. Esta atitude cria a ideia de que a queda definitiva de Castro está para breve, apesar de ele ter reforçado o advérbio “provisoriamente” na declaração lida ao país pelo seu secretário particular. Esta notícia desencadeou reacções bastante distintas. Nos E.U.A vimos exilados cubanos a festejar a queda do líder cubano, em Havana a população juntou-se para apoiar Fidel, desejando a sua rápida recuperação. Fidel chega ao poder em 1976, depois de ter liderado uma guerrilha que derrotou o exército do ditador Fulgêncio Batista, que havia chegado ao poder através de um golpe de estado patrocinado pelos Estados Unidos, situação muito semelhante ao que aconteceu no Chile a 11 de Setembro de 1973.
A existência de um partido único, de uma polícia repressiva e a aplicação de penas duras a opositores ao regime eram a base do regime de Castro. Liberdade de expressão era palavra cujo significado os cubanos não estavam autorizados a conhecer, e a imprensa tinha de obedecer a determinados critérios pré-estabelecidos pelo estado. Sob este ponto de vista a palavra que melhor assenta em Fidel é ditador. No entanto compará-lo com alguns dos ditadores dos regimes do Médio Oriente parece-me imprudente e revela um certo preconceito histórico.
Apesar de não ser difícil ser opositor ao regime anti-democrático que ainda existe em Cuba, parece-me que os progressos que por lá se registaram, principalmente no que à saúde e ensino dizem respeitam, merecem uma reflexão atenta, por parte de alguns países tidos como desenvolvidos. Só por curiosidade, em 1988 Fidel Castro foi o primeiro chefe de estado a receber a medalha da “Saúde para todos” da Organização Mundial de Saúde. Na educação, Fidel apostou na alfabetização da população e no desenvolvimento de universidades, o que levou à formação em grande número de médicos, desportistas e economistas de grande valor. Num estudo datado de 2000 assinado pela UNESCO, a taxa de alfabetização em Cuba é das mais altas da América Latina.
As relações entre Cuba e os E.U.A merecem também alguma reflexão, mas isso ficará para outro post…

2 Comentários:

Às 8/05/2006 08:54:00 da manhã , Blogger rvr disse...

Concordo que o regime de Fidel tem os seus predicados e luta há muitos anos contra um impiedoso embargo internacional, que penaliza sobretudo a população.

No entanto, também acho que é preciso desmistificar uma certa ideia romântica em torno de "El Comandante".

Fidel não será um Estaline, mas não deixa de ser um ditador, que coloca atrás das grades toda e qualquer pessoa que levante a voz contra o seu regime.

abraço

 
Às 8/09/2006 08:56:00 da tarde , Blogger carolinamelo_k disse...

Fidel foi um revolucionário. Devolveu aos cubados o que era deles por direito mas parece ter-lhes retirado muito mais. É impressionante e provoca umas sensações estranhas nos que o observam, admirados e/ou atemorizados.
Fidel foi único mas já perdeu muito (mais?) do que conquistou. E, para aqueles que acreditam que ele já morreu, resta saber até quando uma situação de aparente calma. O mundo observa, ansioso. Um continente quase inteiro, em particular.
Quanto a mim, resta-me esperar também. E retirar o máximo de lições que textos como o teu me podem trazer. Neste momento, a reflexão é rainha de um mar calmo, mas meio revolto.

 

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